
A suplementação de proteína provoca maiores ganhos na capacidade máxima de captação de oxigênio e estimula o acúmulo de massa magra durante treinamento prolongado de resistência: um estudo controlado randomizado, duplo-cego
O treinamento de resistência representa uma estratégia eficaz para aumentar a capacidade máxima de captação de oxigênio (VO₂máx). Um aumento no VO₂máx está associado de forma independente a uma redução da mortalidade total, o que enfatiza os importantes benefícios clínicos do treinamento de resistência. Aumentos no VO₂máx como resultado do treinamento de resistência podem ser atribuídos a respostas adaptativas de vários sistemas orgânicos envolvidos na cadeia de transporte e utilização de oxigênio, desde pulmões, coração e vasos até mitocôndrias no tecido muscular. O impacto de diferentes regimes de treinamento de resistência nas adaptações cardiovasculares e musculares esqueléticas foi investigado exaustivamente. Por outro lado, apenas alguns estudos determinaram o impacto da suplementação de proteínas na resposta adaptativa ao treinamento de resistência, com achados conflitantes. Além disso, esses estudos foram insuficientes ou não foram duplo-cegos, ou incluíram sessões de treinamento físico que não foram totalmente monitoradas pelos investigadores, o que dificulta estabelecer conclusões sobre a eficácia potencial da suplementação de proteínas para a adaptação do treinamento de resistência. Claramente, há uma forte necessidade de ensaios clínicos randomizados duplo-cego bem desenvolvidos, para estabelecer se a suplementação de proteínas afeta a resposta adaptativa do treinamento de resistência.
OBJETIVOS DO ESTUDO
Projetou-se um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, com uma estratégia de suplementação que, teoricamente, deveria ser eficaz com base em medições prévias de taxa sintética fracionada de proteínas pós-exercício e antes do sono. O principal objetivo foi determinar o impacto da suplementação de proteínas nas mudanças no VO₂máx após 10 semanas de treinamento de resistência. Secundariamente, também havia o interesse na capacidade oxidativa do músculo esquelético, desempenho de resistência, fatores hematológicos e composição corporal. Para obter uma percepção do período de adaptação, foram avaliadas todas as medidas de resultado após 5 e 10 semanas de treinamento. Hipotetizou-se que a suplementação proteica facilite a resposta adaptativa do treinamento de resistência.
MÉTODOS
Foi utilizado um estudo controlado randomizado, duplo-cego, com medidas repetidas entre 44 homens jovens recreacionalmente ativos. Os indivíduos realizaram 3 sessões de treinamento de resistência por semana durante 10 semanas. Os suplementos foram fornecidos imediatamente após cada sessão de exercício e diariamente antes do sono, fornecendo proteínas (grupo PRO; n = 19; 21,5 ± 0,4 anos) ou uma quantidade isocalórica de carboidrato como controle (grupo CON; n = 21; 22,5 ± 0,5 anos). O VO₂max, o desempenho simulado de contra-relógio de 10 km e a composição corporal (absorciometria de raios-X de dupla energia) foram medidos antes e após 5 e 10 semanas de treinamento de resistência. Amostras de tecido muscular esquelético em jejum foram coletadas antes e após 5 e 10 semanas para medir a capacidade oxidativa do músculo esquelético, e amostras de sangue em jejum foram coletadas a cada 2 semanas para medir fatores hematológicos.
RESULTADOS
O VO₂máx aumentou em maior extensão no grupo PRO do que no grupo CON após 5 semanas (de 49,9 ± 0,8 a 54,9 ± 1,1 vs 50,8 ± 0,9 a 53,0 ± 1,1 mL · kg − 1 · min − 1; P <0,05 ) e 10 semanas (de 49,9 ± 0,8 a 55,4 ± 0,9 vs 50,8 ± 0,9 a 53,9 ± 1,2 mL · kg-1 · min-1; P <0,05). A massa corporal magra aumentou no grupo PRO, enquanto a massa corporal magra no grupo CON permaneceu estável durante as primeiras 5 semanas (1,5 ± 0,2 vs 0,1 ± 0,3 kg; P <0,05) e após 10 semanas (1,5 ± 0,3 vs 0,4 ± 0,3 kg ; P <0,05). Durante a intervenção, a massa gorda reduziu significativamente no grupo PRO e não houve alterações no grupo CON após 5 semanas (-0,6 ± 0,2 vs -0,1 ± 0,2 kg; P> 0,05) e 10 semanas (-1,2 ± 0,4 vs – 0,2 ± 0,2 kg; P <0,05).
CONCLUSÕES
A suplementação de proteínas provocou maiores ganhos no VO₂máx e estimulou o acúmulo de massa magra, mas não melhorou a capacidade oxidativa do músculo esquelético e o desempenho de resistência durante 10 semanas de treinamento de resistência em jovens saudáveis do sexo masculino.
Este estudo foi registrado no clinictrials.gov como NCT03462381. Am J Clin Nutr 2019; 110: 508-518.
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