A empregabilidade materna e a alimentação de bebês e crianças
Publicado em 27/04/2018
O trabalho feminino está associado à melhoria da alimentação de bebês e crianças pequenas em países de baixa e média renda O fato da mulher trabalhar fora de casa melhora a renda familiar e pode aumentar os recursos disponíveis para o gasto com alimentos. No entanto, mulheres empregadas enfrentam restrições de tempo que podem influenciar as práticas de cuidados e alimentação de bebês e crianças pequenas. À medida que as tendências econômicas e sociais mudam para incluir mais mulheres no mercado de trabalho em países de baixa e média renda, é necessário um entendimento atual da associação entre a empregabilidade materna e a alimentação de bebês e crianças. Um estudo publicado no The American Journal of Clinical Nutrition investigou essa possível associação, em 50 países de baixa e média renda. Foram analisados os dados transversais das Pesquisas Demográficas e de Saúde, nacionalmente representativas, que usam questionários padronizados e amostragem por conglomerados em múltiplos estágios para permitir comparações entre países, no período de 2010 a 2017. Os dados analisados abrangiam status de emprego das mulheres e os indicadores das práticas de cuidados e alimentação de bebês e crianças pequenas. As análises incluíram mulheres que tiveram ≥ 1 criança que estavam com idade entre 0-24 meses. De maneira geral, os resultados sugerem que o emprego formal tem um efeito benéfico sobre a dieta das crianças em todas as regiões estudadas. Isso é consistente com a literatura anterior que indica que o emprego materno especificamente e o aumento da renda materna de forma mais ampla estão associados ao aumento dos gastos com alimentação domiciliar e melhor qualidade da dieta. Além disso, em consonância com literaturas anteriores, o presente estudo evidenciou que nem o emprego formal nem o emprego informal, em comparação com o desemprego, estão associados à amamentação exclusiva entre bebês até seis meses de idade. Uma possível explicação para esse achado é que os fatores sistêmicos desempenham um papel maior na influência das práticas de amamentação exclusiva, tais como normas socioculturais em torno da disponibilidade e uso de substitutos do leite materno, duração da licença maternidade e apoio ao aleitamento materno no local de trabalho. Além disso, o emprego formal foi significativamente associado com menores chances de amamentação continuada em crianças até um ano, enquanto análises de sensibilidade também indicaram que o emprego informal estava associado a maiores chances de amamentação contínua em bebês até um ano de idade. Evidências limitadas dos países de baixa renda sugerem que empregos mais formalizados exigem jornadas de trabalho mais longas e oferecem arranjos de cuidados infantis menos flexíveis, e uma revisão recente destaca a necessidade não atendida de apoio do local de trabalho para encorajar o aleitamento materno entre mães trabalhadoras em países de baixa e média renda. Os resultados também indicam que a magnitude da associação de emprego e diversidade mínima de dieta geral foi maior entre as crianças de mulheres empregadas formalmente em comparação com crianças de mulheres com emprego informal. Isso pode ser motivado pelo fato de que filhos de mulheres com emprego formal estão consumindo vários alimentos de melhor qualidade. Embora as crianças de mulheres empregadas formal e informalmente, em comparação com filhos de mulheres desempregadas, tivessem maior probabilidade de consumir alimentos de origem animal, a magnitude da associação para emprego formal era maior do que a associação análoga para emprego informal. Filhos de mulheres com emprego formal também tinham maiores chances de consumir laticínios, grãos, ovos, gorduras e doces. Outros resultados podem ser conferidos diretamente na pesquisa em questão. Em conclusão, o emprego materno está associado a melhores práticas de alimentação complementar entre as crianças, conforme indicado pela qualidade da dieta e frequência das refeições em várias regiões de 50 países de baixa e média renda. Embora os filhos de mães com emprego formal não tenham sido menos propensos a serem amamentados exclusivamente até seis meses, eles tiveram menor probabilidade de serem amamentados até um ano de idade. Dada a variação nas associações entre as regiões, o estágio dos países dentro da transição nutricional e as normas culturais em torno das práticas de cuidados e alimentação de bebês e crianças pequenas provavelmente desempenham um papel nessas relações. Mais pesquisas são necessárias para identificar os caminhos pelos quais o emprego pode melhorar as práticas de alimentação infantil e a qualidade da dieta. À medida que se espera que um número crescente de mulheres se junte ao mercado de trabalho nos países de baixa renda nas próximas décadas, também pode ser importante considerar e identificar estratégias eficazes de intervenção e abordagens políticas que apoiem a amamentação entre mães formalmente empregadas no local de trabalho.   Leia o estudo na íntegra e seus resultados completos em https://doi.org/10.1093/ajcn/nqy001
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