Consumo de café da manhã e adiposidade na adolescência
Publicado em 17/05/2019

A obesidade é uma grande preocupação de saúde pública. O número de crianças e adolescentes obesos de 5 a 19 anos aumentou de 11 milhões, em 1975, para mais de 120 milhões, em 2016, em todo o mundo. O consumo de café da manhã foi percebido como um fator influenciador. No entanto, a real relação entre o consumo de café da manhã e os resultados da adiposidade é pouco compreendida, porque estudos experimentais e de coorte apresentam resultados inconsistentes quando comparado com os transversais. Apesar do fato de que várias mudanças comportamentais ocorrem durante a adolescência, poucos estudos longitudinais foram realizados para examinar a relação entre o consumo de café da manhã por um período prolongado e a trajetória de adiposidade.

O Estudo Nacional Longitudinal de Saúde do Adolescente constatou que os americanos que tomam café da manhã regularmente durante a adolescência e a idade adulta jovem ou tomam café da manhã regularmente apenas durante a adolescência ou na idade adulta jovem tinham 59%, 31% e 23% menos chances de serem cronicamente obesos em comparação com os pares que têm consumo de café da manhã irregular em ambos os momentos. Esse achado indicou que o consumo regular e persistente de café da manhã é um fator potencialmente maior de proteção à obesidade. Portanto, é possível que os resultados conflitantes dos estudos realizados até o momento se devam ao fato de que consumir café da manhã regularmente por um período prolongado é mais influente nos desfechos de adiposidade.

Um fator de confusão pode ser o fato de realizar o café da manhã com a família. Estudos anteriores indicaram que crianças e adolescentes que compartilhavam refeições em família pelo menos três vezes por semana tinham 12% menos de chance reduzida de ficarem com excesso de peso. No entanto, duas revisões sistemáticas indicaram que há evidências inconsistentes entre a associação de frequência de refeições em família e prevalência de excesso de peso na infância e adolescência.

OBJETIVOS DO ESTUDO

O objetivo principal foi determinar se a frequência da ingestão do café da manhã e do café da manhã em família está associada à trajetória de adiposidade do início ao meio da adolescência. O objetivo secundário foi examinar se existe uma diferença na trajetória de adiposidade entre aqueles que mantêm o hábito de consumir o café da manhã e o fazem na presença dos pais durante a adolescência e daqueles que modificam esses hábitos.

MÉTODOS

Estudo de coorte prospectivo com alunos do ensino médio com idade entre 10 e 16 anos matriculados em 2010, e acompanhados por 3 anos.

Foram incluídos 945 estudantes de duas escolas públicas e quatro particulares da região metropolitana do Rio de Janeiro. Entre 945 estudantes, 809 participaram do estudo desde o início. Estudantes grávidas, lactantes, com deficiências físicas ou mentais foram excluídos.

O índice de massa corporal (IMC) foi determinado medindo-se o peso e a altura dos participantes, e a porcentagem de gordura corporal (%GC) foi avaliada por meio da análise de impedância bioelétrica.

Modelos lineares de efeito misto foram usados ​​para examinar a relação entre a linha de base e a persistência do consumo de café da manhã e a realização do café da manhã em família durante um período de 3 anos, e a mudança no IMC e %GC. O café da manhã e o café da manhã em família foram avaliados por questões sobre frequência de consumo. Ambas as variáveis ​​foram classificadas como regular, intermediária e sem consumo no início do estudo. A persistência foi dividida em persistentemente regular, persistentemente irregular, mudando de regular para irregular e contrariamente.

RESULTADOS

No geral, o consumo frequente de café da manhã e o café da manhã em família não tiveram efeitos protetores contra a adiposidade. No início do estudo, esses comportamentos estavam associados com baixo IMC e %GC entre as meninas. Durante o acompanhamento, esses comportamentos e a persistência do consumo regular de café da manhã foram associados a um aumento no %GC (P <0,05). Nos meninos, aqueles que aumentaram ou diminuíram a ingestão do café da manhã tiveram maior queda no %GC em comparação com aqueles persistentemente regulares nos dois momentos.

CONCLUSÃO

O café da manhã não apresentou relação consistente com a trajetória de adiposidade na adolescência.

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