Efeitos dos alimentos funcionais em pacientes diabéticos
Publicado em 07/10/2022

Efeitos dos alimentos funcionais em pacientes diabéticos: uma revisão sistemática

A expectativa de vida aumentou em decorrência dos avanços técnico-científicos da medicina, mas apesar de viver mais, houve um aumento na prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) devido à transição demográfica-epidemiológic. Assim, o uso indiscriminado de medicamentos pode afetar o comportamento alimentar, principalmente na absorção de nutrientes essenciais ao funcionamento das funções corporais, impactando na saúde dessa população e consequentemente reduzindo sua qualidade de vida.

Contribui para esse crescimento das taxas de prevalência dessas DCNT no Brasil a troca de alimentos tradicionais como feijão, arroz e hortaliças por alimentos industrializados, aumentando o consumo de sódio, gorduras saturadas e açúcares. Dados do VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Levantamento Telefônico Conjunto das 26 capitais e do Distrito Federal) de 2016 mostram que 80,4% da população com 18 anos não atingiu o consumo recomendado de frutas e hortaliças. Esta pesquisa também relata que o número de brasileiros com diabetes subiu de 5,5% da população para 8,9% no período correspondente de 2006 a 2016.

O controle do Diabetes Mellitus tipo II está diretamente relacionado ao perfil alimentar, à prática regular de atividade física, bem como ao uso de medicamentos prescritos pelo médico regularmente, se necessário, culminando em um estilo de vida saudável. No entanto, inúmeras barreiras para essa mudança no estilo de vida são encontradas no caminho entre profissionais e pacientes.

De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil, o Diabetes Mellitus é uma doença crônica em que o pâncreas não produz insulina ou quando o organismo não consegue utilizá-la de forma eficaz, sendo esta última a definição de diabetes tipo II. Constituindo 90% da população diabética, o diabetes tipo 2 também é chamado de resistência à insulina, pois é difícil conectar a insulina ao seu receptor celular, devido à camada de gordura que dificulta esse acoplamento. Portanto, a obesidade é diretamente proporcional à ocorrência de Diabetes Mellitus Tipo II.

Pacientes que não têm acesso ao sistema de saúde, profissionais que não conseguem orientar com linguagem acessível para seus clientes, e como a maioria dos diabéticos são idosos, a capacidade de compreensão de algumas orientações é limitada, o que culmina na não adesão à mudança de estilo de vida e gestão do autocuidado. Somados aos fatores biopsicossociais, aumentam as chances de não adesão ao tratamento e mudanças no estilo de vida.

Os autores Lopes et Al (2005), Kant (2010), Hiza et Al (2013) e Giuli et Al (2012) apontam que padrões alimentares saudáveis ​​estão associados a melhores controle da glicemia e da hipertensão, além de outras doenças crônicas como a dislipidemia. Os autores Fernandes et al (2017) e Bento et al (2018) apresentaram resultados que sugerem que o maior uso de medicamentos para doenças crônicas entre idosos brasileiros está associado a uma alimentação mais saudável, talvez porque essa parcela da população é mais cuidadosa com sua saúde, não significando que esses medicamentos não tenham impacto na absorção desses nutrientes.

Os alimentos funcionais podem beneficiar o indivíduo na prevenção ou tratamento de doenças crônico-degenerativas. Assim, o uso rotineiro de alimentos funcionais é recomendado para que os benefícios sejam alcançados. Lembrando que toda dieta deve ser balanceada, e que o excesso, inclusive de alimentos funcionais, leva à disfunção alimentar. Uma vez que hábitos inadequados levam a uma liberação endógena de radicais livres, que por sua vez causam estresse oxidativo nos tecidos. Os alimentos funcionais são antioxidantes e, portanto, possuem efeito protetor no organismo do indivíduo.

Portanto, uma dieta adequada para esse grupo de pacientes deve ser implementada o quanto antes.

OBETIVOS DO ESTUDO

Quais alimentos podemos usar para facilitar o controle glicêmico e da insulina? Por esse motivo, este estudo teve como objetivo revisar sistematicamente a literatura sobre os efeitos dos alimentos funcionais em pacientes diabéticos.

MÉTODO

Revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados publicados entre 2014 e 2021. Utilizando como descritores: Diabetes Mellitus Tipo 2 (Diabetes Mellitus Tipo 2), Alimentos Funcionais.

RESULTADOS

Dos 566 artigos encontrados, foram selecionados 65 artigos, que passaram na escala PEDro de qualidade metodológica, e 11 artigos foram incluídos. Dos quais abordaram diferentes alimentos funcionais e seus efeitos em diferentes variáveis ​​em pacientes diabéticos. Pode-se concluir que diversos alimentos apresentam efeitos benéficos no controle glicêmico e insulínico em pacientes diabéticos. Ainda, como benefício, apresentaram efeitos colaterais no controle da dislipidemia, pressão arterial e IMC.

CONCLUSÃO

Nesta revisão, pode-se concluir que, embora os estudos apresentados tenham avaliado diferentes desfechos, sendo que um apresentou resultado positivo e o outro negativo, o uso do gengibre para pacientes diabéticos não deve ser descartado. O ginseng vermelho parece ser benéfico para a glicemia pós-prandial e o controle da insulina. O uso de amilose tipo 2 em substituição ao trigo convencional melhora a insulina pré e pós-prandial. A isoflavona melhora o controle glicêmico, pressão arterial, triglicerídeos e risco cardiovascular calculado, e a soja melhora a capacidade antioxidante sérica total e o fluxo sanguíneo braquial, reduz o colesterol total, e-selectina. Dietas com baixo teor de carboidratos ou com baixo teor de gordura promoveram redução no peso corporal, gordura corporal, lipídio intra-hepático e tecido adiposo visceral. Além disso, a substituição de alimentos de alto índice glicêmico por alimentos de baixo índice glicêmico também resultou em melhora do IMC.

Esses alimentos funcionais são alternativas importantes para a substituição de alimentos que favorecem o aumento da glicemia, gordura corporal e distúrbios metabólicos. Sendo oportunamente oferecidos ao paciente como aliados no processo de controle da glicemia, insulina e outros elementos, facilitando a adesão do paciente à terapia nutricional. É importante ressaltar que o uso de alimentos funcionais para pacientes diabéticos deve estar inserido em uma dieta balanceada e restrita à glicose, para obtenção de resultados positivos. Portanto, além da ingestão de alimentos funcionais, recomenda-se o uso de nutracêuticos oriundos de uma dieta rica em frutas e hortaliças, levando em consideração as limitações impostas pelo estado glicêmico do paciente. É possível observar que existem inúmeros estudos sobre alimentos funcionais para pacientes diabéticos, mas muitos estudam alimentos isolados e com amostra pequena, havendo escassez de estudos que estudem o mesmo nutriente/alimento e seus desfechos sejam comuns, o que compromete a prática baseada em evidências.

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