Estudo determina efeitos da gordura em pacientes com dispepsia funcional e controles saudáveis
Publicado em 09/11/2018
Rótulo de gordura comparado ao conteúdo de gordura: sintomas gastrintestinais e atividade cerebral em pacientes com dispepsia funcional e controles saudáveis. A dispepsia funcional (DF) é caracterizada por plenitude pós-prandial, saciedade precoce, dor epigástrica, distensão abdominal e/ou náusea após as refeições, particularmente aquelas que com alimentos ricos em gordura, na ausência de quaisquer anormalidades estruturais do trato gastrointestinal. O papel da gordura na alteração da sensibilidade gastrointestinal e na produção de sintomas é uma característica patofisiológica bem conhecida nos pacientes com DF. A infusão intraduodenal de lipídeos, mas não de glicose ou de soro fisiológico, provoca náusea, distensão abdominal e vômitos em pacientes com DF. Após a ingestão de uma refeição rica em gordura, os sintomas de náusea e dor abdominal foram maiores do que após uma refeição rica em carboidratos. Os pacientes com DF relatam que a distensão abdominal esta relacionada à quantidade de gordura ingerida. Apesar de refeições com alto teor de gordura estarem associadas a sintomas dispépticos em pacientes com DF, ainda não está claro como a gordura é processada, ou como os sintomas da DF e as atividades neuronais são moduladas por fatores psicológicos. Uma hipótese do início da década de 1990 propunha que anormalidades no eixo cérebro-intestino são um dos principais mecanismos que controlam a DF. A presença do alimento ou nutriente no trato gastrointestinal é sinalizada para o sistema nervoso central, que modula o comportamento alimentar e controla os sintomas gastrointestinais. Além disso, alguns dos muitos caminhos do cérebro para controlar a percepção de estímulos internos e externos podem ser prejudicados em pacientes com DF e causar sintomas somáticos. Um grande número de estudos de neuroimagem funcional sugere que há uma alteração na ativação das regiões cerebrais cognitivas e de processamento da dor nos pacientes com DF. No entanto, pouco se sabe sobre como a informação de gordura ou como a gordura é processada no cérebro, ou como ela é mediada por fatores patológicos em pacientes com DF. Dessa forma, In-Seon Lee e colaboradores desenvolveram um estudo para determinar os efeitos da gordura e das informações do conteúdo de gordura no cérebro (alto teor de gordura e baixo teor de gordura) em pacientes com dispepsia funcional e controles saudáveis. Além disso, também testaram como os fatores psicológicos influenciam os sintomas e a atividade cerebral em pacientes com DF. Foram comparados 12 pacientes com DF e 14 controles saudáveis e registrada a ressonância magnética de repouso em quatro dias diferentes, antes e após a ingestão de quatro iogurtes (200 mL, 10% ou 0,1% de gordura, rótulo de “baixo teor de gordura” ou “alto teor de gordura”). Os resultados mostraram que pacientes com DF apresentam sintomas dispépticos mais pronunciados do que os saudáveis, e eles duram mais após o consumo de iogurte com alto teor de gordura do que com iogurte com baixo teor de gordura, independentemente do teor real de gordura. Isso é indicativo de um efeito placebo. Os pacientes com DF mostraram maior atividade do que os saudáveis em áreas occipitais antes e após a ingestão, independentemente do conteúdo de gordura e rótulo, bem como maior atividade no giro frontal médio antes da ingestão. Além disso, a conectividade funcional da ínsula ao córtex occipital aumentou após a ingestão de gordura e diminuiu após a ingestão de baixo teor de gordura nos pacientes com DF. A conectividade funcional da ínsula ao precuneus foi maior em pacientes com DF do que em saudáveis após a ingestão de iogurte com baixo teor de gordura. Nos pacientes com DF, a conectividade funcional da ínsula ao córtex occipital correlacionou-se negativamente com náusea; e a conectividade funcional da ínsula ao precuneus com intensidade dos sintomas de DF, desejo por comida e depressão. Os pesquisadores concluíram que os resultados obtidos endossam a importância da percepção psicológica dos alimentos sobre a incidência de sintomas dispépticos e sobre as atividades cerebrais alteradas. Esses achados mostram a importância dos componentes cognitivos nas percepções de gordura, desejo por comida, depressão e funções cerebrais nos mecanismos fisiopatológicos da DF. Este ensaio foi registrado em clinicaltrials.gov como NCT02618070. Leia o estudo completo em https://doi.org/10.1093/ajcn/nqy077
Compartilhar