Ingestão de cafeína por gestante e desfechos adversos no nascimento
Publicado em 29/03/2019

Ingestão de cafeína pela gestante está associada a desfechos adversos ao nascimento

Desfechos adversos ao nascimento, como baixo peso ao nascer (BPN) e prematuridade (Pr) estão associados a maior morbidade e mortalidade na infância e na vida adulta. Globalmente, BPN e Pr ocorrem em 15-15% e 5-18%, respectivamente, de todos os nascidos vivos. Assim, a identificação de fatores de risco modificáveis ​​de BPN e Pr é uma necessidade urgente de pesquisa, com vistas a melhorar os desfechos de saúde de crianças e adultos, e a evitar a sobrecarga dos cuidados de saúde associados a esses desfechos adversos de nascimento.

A cafeína é uma substância psicoativa comumente usada e pode ser encontrada, principalmente, em café, chá, refrigerantes à base de cola, e alimentos e bebidas contendo cacau. Verificou-se que o consumo moderado de cafeína tem uma influência neutra ou que reduz o risco em vários desfechos de saúde em populações gerais. No entanto, muitos estudos, incluindo uma recente metanálise, concluíram que a gravidez pode ser um período particularmente vulnerável, durante o qual a ingestão de cafeína pela gestante pode impactar negativamente no nascimento e, subsequentemente, os resultados da saúde infantil. O metabolismo da cafeína diminui à medida que a gravidez progride, e a principal enzima envolvida no metabolismo da cafeína (citocromo P450 1A2) está ausente tanto na placenta quanto no feto, levantando preocupações sobre o acúmulo de cafeína nos tecidos fetais e suas supostas consequências prejudiciais.

Recentemente, três metanálises, com foco nos desfechos do nascimento, mostraram, independentemente, que a maior ingestão de cafeína pela mãe estava associada a desfechos adversos do nascimento, como Pr. No entanto, a maioria dos estudos incluídos nessas metanálises eram oriundas de países onde o café era a fonte predominante de cafeína. No entanto, se o consumo de chá é seguro durante este período vulnerável permanece desconhecido. Em estudos no Reino Unido e na Ásia, onde o chá é a fonte predominante de cafeína, foram relatados resultados conflitantes, provavelmente devido à heterogeneidade nos níveis de consumo de cafeína e/ou chá. Portanto, ainda não está claro se diferentes fontes de cafeína podem ter influências diferentes nos desfechos do nascimento. A esse respeito, o Estudo de Coortes de Geração Cruzada da Lifeways oferece uma oportunidade para elucidar ainda mais essas relações em uma população irlandesa onde o chá, em vez do café, é a fonte de cafeína predominante.

OBJETIVOS DO ESTUDO

O presente estudo têm dois objetivos: primeiro, procurou descrever o padrão e as fontes de ingestão de cafeína em uma população de mulheres grávidas irlandesas; em segundo lugar, estudou as associações da ingestão pela gestante de cafeína com os desfechos do nascimento. A hipótese considerada é de que a ingestão de cafeína do café e do chá está associada ao BPN e a maiores riscos de desfechos adversos no parto.

MÉTODO

Foram examinados dados de 941 pares de mães e filhos irlandeses do Estudo de Coortes de Geração Cruzada da Lifeways. Ingestões dietéticas maternas no início da gravidez foram avaliadas usando um questionário validado de frequência alimentar. A ingestão de cafeína foi derivada de café, chá e refrigerantes, e alimentos e bebidas contendo cacau. Associações da ingestão pela mãe de cafeína com resultados de nascimento contínuos (peso ao nascer, comprimento de nascimento e idade gestacional) e binários BPN (peso de nascimento <2.500 g) e Pr (idade gestacional <37 semanas) foram investigados usando regressões lineares e logísticas múltiplas, respectivamente, com ajuste para potenciais fatores de confusão.

RESULTADOS

O chá foi a fonte predominante de cafeína (48%), seguido pelo café (39%). No modelo totalmente ajustado, a ingestão de cafeína pela gestante foi associada com menor peso ao nascer [β (95% CI): −71,9 (−105,4, −38,4) g · 100 mg ‐ 1 · d – 1 incremento de cafeína], menor comprimento ao nascer [ −0,30 (−0,49; −0,11) cm], menor circunferência da cabeça [−0,12 (−0,24; −0,01) cm] e menor idade gestacional [−0,13 (−0,25; −0,02) semanas]; riscos mais elevados para BPN [OR (95% CI): 1,47 (1,14, 1,90)] e Pr [1,36 (1,07, 1,74)] também foram observados (todos P <0,05). As associações foram robustas quando foi excluído participantes com complicações na gravidez e em nunca fumantes. Riscos similares mais altos de desfechos adversos de nascimento foram observados para as categorias mais altas de ingestão de cafeína do café [ORLBW: 3.10 (1.08, 8.89); ORPB: 2,74 (1,05, 7,16)] e �eo [ORLBW: 2,47 (1,02, 6,01); ORPB: 2,56 (1,14; 5,75)], em comparação com as categorias de ingestão mais baixas (todas P <0,05).

CONCLUSÃO

A ingestão de cafeína pela gestante, por meio de café e chá, está associada a desfechos adversos ao nascimento.Este estudo observacional prospectivo foi registrado no ISRCTN Registry como ISRCTN16537904. Am J Clin Nutr 2018; 108: 1301-1308.

Compartilhar