Ingestão de gordura, níveis de vitamina D e densidade óssea
Publicado em 21/12/2018

Ingestão de gordura, níveis de vitamina D e densidade óssea (POUNDS Lost Trial)

A massa corporal tem sido relacionada à saúde óssea. As dietas para perda de peso mostram benefícios metabólicos, mas os dados que relacionam a perda de peso à saúde óssea são controversos. Vários estudos mostraram que um baixo IMC é um fator de risco para osteoporose. Perda de peso induzida por dieta tem sido associada a uma diminuição na densidade mineral óssea (DMO) em alguns estudos; entretanto, resultados inconsistentes também foram relatados. A hipótese do presente estudo é que tais observações inconsistentes podem ser parcialmente devido a variações genéticas da vitamina D.

A vitamina D está intimamente relacionada à saúde óssea, promovendo a absorção de cálcio e atuando nos osteoblastos e osteoclastos para modular o metabolismo do cálcio. A 25-hidroxivitamina D circulante [25 (OH) D] é o indicador mais adequado do status de vitamina D. Três variantes genéticas associadas à vitamina D sérica [7-desidrocolesterol-redutase (DHCR7) rs12785878, citocromo P450 2R1 (CYP2R1) rs10741657 e globulina componente-específica de grupo (GC) rs2282679] foram identificadas em um recente estudo de associação genômica ampla. As variantes genéticas também foram relacionadas à DMO. No entanto, nenhum estudo avaliou se as variações genéticas da vitamina D afetam as mudanças na DMO em ensaios de intervenção para perda de peso.

Assim, neste estudo publicado no The American Journal of Clinical Nutrition [Zhou et al., Am J Clin Nutr, 108(5):1129-34, 2018] foram examinadas as relações entre variações genéticas de vitamina D e alterações na DMO em um experimento de intervenção (por 2 anos) dietética de perda de peso, denominado “Prevenção do sobrepeso com o uso de novas estratégias dietéticas”. Como os estudos de intervenção sugerem que fatores dietéticos produzem efeitos diferentes na saúde óssea, foram examinadas em particular as interações potenciais entre as variantes genéticas da vitamina D e as intervenções dietéticas na DMO.

Para o estudo, a DMO foi aferida em 424 participantes que foram aleatoriamente alocados em 4 grupos (4 dietas que variavam na ingestão de macronutrientes). Um escore de risco genético (GRS, do inglês Genetic Risk Score) foi calculado com base em três variantes genéticas [7-desidrocolesterol redutase (DHCR7) rs12785878, citocromo P450 2R1 (CYP2R1) rs10741657 e grupo específico de globulina (GC) rs2282679] relacionadas aos níveis circulantes de vitamina D. Um exame de absorbanciometria de raio-X de dupla energia (DXA) foi realizado para avaliar as mudanças na DMO de corpo inteiro ao longo de 2 anos. A análise final incluiu 370 participantes dos 424 do momento inicial do estudo.

Os resultados mostraram uma interação significante entre a ingestão de gordura na dieta e a GRS da vitamina D nas mudanças de 2 anos na DMO de corpo inteiro. No grupo de dieta rica em gordura, os participantes com maior GRS apresentaram redução significantemente menor na DMO de corpo inteiro do que aqueles com baixa GRS, enquanto as associações genéticas não foram significantes no grupo de dieta com baixo teor de gordura. Também foi encontrada uma interação significante entre a ingestão de gordura na dieta e a GRS na variação de 6 meses na DMO do colo do fêmur (interação P = 0,02); no entanto, a interação tornou-se não significante em 2 anos.

De maneira geral, os dados indicam que a ingestão de gordura na dieta pode modificar o efeito da variação genética relacionada à vitamina D nas mudanças na DMO. Pacientes com sobrepeso ou obesidade predispostos a vitamina D adequada podem se beneficiar mais da manutenção da DMO, juntamente com a perda de peso pela ingestão de uma dieta com baixo teor de gordura. Por outro lado, os participantes com uma predisposição genética à vitamina D deficiente podem ter melhor saúde óssea quando ingerem uma dieta rica em gordura em uma dieta de perda de peso a longo prazo.

Este ensaio foi registrado em clinicaltrials.gov como NCT03258203.

Confira o resumo do estudo em https://doi.org/10.1093/ajcn/nqy197

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