Intervenção alimentar de longo prazo revela resiliência da microbiota intestinal
Publicado em 24/07/2020

Intervenção alimentar de longo prazo revela resiliência da microbiota intestinal, apesar das mudanças na dieta e no peso

As taxas atuais de obesidade são assustadoramente altas e continuam a aumentar a cada ano, uma tendência originalmente confinada a sociedades mais ricas, mas que agora começa a se espalhar para o mundo em desenvolvimento. As doenças associadas à obesidade incluem doenças cardíacas, diabetes e condições respiratórias, as quais contribuem para diminuir a expectativa de vida e a qualidade de vida. Os países confrontados com essas tendências não foram capazes de revertê-las, apesar dos esforços médicos e de saúde pública em larga escala para controlar o peso. Para combater essas preocupações crescentes com a saúde e contornar a necessidade de medicamentos, muitos recorrem à dieta como uma maneira de atingir a perda de peso. No entanto, no contexto da obesidade, a modulação do peso através da dieta tem sido amplamente ineficaz para o controle do peso a longo prazo por várias razões.

Trabalhos anteriores estabeleceram uma relação entre a obesidade e o microbioma, incluindo o papel causal das microbiotas associadas à obesidade para conferir ganho de peso quando transplantadas em camundongos magros e táxons associados ao peso em humanos. A microbiota pode afetar a extração de energia da ingestão alimentar, armazenamento de gordura no tecido adiposo e permeabilidade intestinal, as quais podem contribuir para a obesidade e a inflamação associada. Em humanos, a obesidade e os padrões alimentares de longo prazo estão associados à composição do microbioma, bem como preditivos de recuperação do peso. Devido à maleabilidade e variação interindividual na microbiota, bem como seu impacto na fisiologia do hospedeiro, dietas baseadas no microbioma de um indivíduo podem ser um caminho a seguir na identificação de estratégias mais eficazes de perda de peso em humanos.

O estudo The Diet Intervention Examining The Factors Interacting with Treatment Success  (DIETFITS) comparou uma abordagem saudável com baixo teor de carboidratos (baixo carboidrato) e com outra, também saudável,  com baixo teor de gordura para perda de peso, em um estudo de intervenção dietética de um ano. O objetivo original do estudo foi observar como fatores do hospedeiro, como um genótipo relacionado ao metabolismo e a resistência à insulina, afetaram o sucesso das duas dietas, medidas pela perda de peso. Foi demonstrado que, enquanto os participantes perderam uma quantidade significativa de peso durante um período de 12 meses, nenhuma dieta era universalmente superior e aspectos específicos do genótipo do hospedeiro ou resistência à insulina não foram capazes de prever o sucesso na perda de peso específica da dieta.

OBJETIVOS DO ESTUDO

Neste estudo foi explorado outro fator específico do indivíduo, o microbioma, na perda de peso específica da dieta de um subconjunto de participantes do estudo DIETFITS. Nesta análise exploratória do microbioma no estudo da dieta para perda de peso DIETFITS, o objetivo principal foi determinar se a composição ou diversidade da microbiota basal estava associada ao sucesso da perda de peso. O objetivo secundário foi examinar a relação mais ampla entre as alterações de 12 meses nos componentes individuais da composição, dieta e peso do microbioma.

MÉTODOS

Foi utilizado o sequenciamento de amplicons do gene do RNA ribossômico 16S para determinar a composição da microbiota durante um período de 12 meses em 49 participantes, como parte de um estudo randomizado de intervenção dietética maior de participantes que consumiam uma dieta saudável com pouco carboidrato ou com pouca gordura.

RESULTADOS

Embora a composição da microbiota basal não fosse preditiva de perda de peso, cada dieta resultou em alterações substanciais na microbiota três meses após o início da intervenção; algumas dessas mudanças foram específicas da dieta (14 alterações taxonômicas específicas para a dieta saudável com baixo carboidrato, 12 alterações taxonômicas específicas para a dieta saudável e com baixo teor de gordura) e outras acompanhadas por perda de peso (7 alterações taxonômicas nas duas dietas). Após essas mudanças iniciais, a microbiota retornou perto do estado inicial de referência durante o restante da intervenção, apesar dos participantes manterem sua dieta e perda de peso durante todo o estudo.

CONCLUSÕES

Esses resultados sugerem uma resiliência à perturbação do perfil inicial da microbiota. Ao considerar a contribuição estabelecida das microbiotas associadas à obesidade para o ganho de peso em modelos animais, a resiliência da microbiota pode precisar ser superada para alterações de longo prazo na fisiologia humana. Este estudo foi registrado no clinictrials.gov como NCT01826591. Am J Clin Nutr 2020; 111: 1127-1136.

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