Níveis séricos e importância da suplementação de vitamina D
Publicado em 19/01/2022

Principais meta-análises, estudos clínicos randomizados e consenso internacional sobre níveis séricos e importância da suplementação de vitamina D: estado da arte

A hipovitaminose D é altamente prevalente e constitui um problema de saúde pública mundial. Estudos mostram alta prevalência dessa doença em várias regiões geográficas, inclusive no Brasil. Pode afetar mais de 90% dos indivíduos, dependendo da população estudada.

A vitamina D é essencial em funções relacionadas ao metabolismo ósseo, mas também parece estar relacionada à fisiopatologia de diversas doenças. Em crianças, a deficiência de vitamina D leva a retardo de crescimento e raquitismo. Em adultos, a hipovitaminose D leva a osteomalácia, hiperparatireoidismo secundário e, consequentemente, aumento da reabsorção óssea, favorecendo a perda óssea e o desenvolvimento de osteopenia e osteoporose. Fraqueza muscular também pode ocorrer, o que contribui para aumentar ainda mais o risco de quedas e fraturas ósseas em pacientes com baixa massa óssea.

A deficiência de vitamina D (25-hidroxivitamina D (25 (OH) D) sérica <50 nmol/L ou 20 ng/mL) é mais comum do que se pensa na maioria da população mundial. Ocorre em <20% da população no norte da Europa, em 30-60% no oeste, sul e leste da Europa e até 80% nos países do Oriente Médio. Deficiência grave (25 (OH) D sérico <30 nmol/L ou 12 ng/mL) é encontrada em >10% dos europeus. A Sociedade Europeia de Tecidos Calcificados (ECTS) recomenda que a dosagem de 25 (OH) D sérica seja padronizada por um Programa de Padronização de Vitamina D. Os grupos de risco incluem crianças pequenas, adolescentes, mulheres grávidas, idosos (principalmente institucionalizados) e imigrantes não ocidentais.

As consequências da deficiência de vitamina D incluem defeitos de mineralização e menor densidade mineral óssea, causando fraturas. As consequências extra-esqueléticas podem ser fraqueza muscular, quedas e infecção respiratória aguda, e são objeto de grandes ensaios clínicos em andamento. A ECTS aconselha melhorar o status de vitamina D fortificando os alimentos e usando suplementos de vitamina D em grupos de risco. A fortificação de alimentos pela adição de vitamina D a laticínios, pães e cereais pode melhorar o status de vitamina D de toda a população, mas a garantia de qualidade precisa ser monitorada para evitar intoxicações. Grupos de risco específicos, como bebês e crianças de até 3 anos, gestantes, idosos e imigrantes não ocidentais, devem receber suplementos de vitamina D rotineiramente. Pesquisas futuras devem incluir estudos genéticos para definir melhor a vulnerabilidade individual à deficiência de vitamina D e estudos de randomização mendeliana para o efeito da deficiência de vitamina D em desfechos não esqueléticos de longo prazo, como câncer.

O diagnóstico correto dessa condição e a identificação de fatores que melhoram ou pioram podem contribuir para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes para o tratamento de populações de risco, como idosos e mulheres na pós-menopausa. Assim, são crescentes os esforços do Departamento de Metabolismo Ósseo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) no desenvolvimento de recomendações baseadas nas evidências disponíveis na literatura científica para o diagnóstico e tratamento desta condição. Nesse contexto, as células da paratireoide expressam a enzima 1-alfa-hidroxilase e podem sintetizar a forma ativa, 1,25(OH)2D intracelularmente, a partir do pool sérico de 25(OH)D. Em situações de hipovitaminose D, a menor síntese intracelular leva ao hiperparatireoidismo secundário que está associado ao aumento da reabsorção óssea. Existe uma correlação inversa entre PTH e 25 (OH) D, descrita em crianças e idosos. Vários valores de corte de 25(OH)D para normalização do PTH foram publicados, e a maioria está concentrada entre 28 e 40 ng/mL (70 a 100 nmol/L).

A absorção do cálcio pelo intestino é dependente da ação da vitamina D ativa no duodeno, através de um processo transcelular saturável, cujo estímulo leva à síntese de proteínas como a calbindina-D9k (CaBP-9k) e o canal epitelial apical TRPV6. No entanto, há evidências de que o transporte insaturado que ocorre com parte da absorção de cálcio no íleo humano também influencia a vitamina D.

OBJETIVOS DO ESTUDO

O presente estudo teve como objetivo fazer uma ampla análise da literatura mundial para compor o Estado da Arte sobre os níveis séricos de vitamina D e sua adequada suplementação, para prevenir e mitigar diversas doenças, com base em estudos clínicos randomizados, análises e mais recentes conferências e consensos.

MÉTODOS

O presente estudo seguiu uma revisão literária de estudos clínicos randomizados, metanálise e o mais recente consenso internacional. O instrumento Cochrane foi adotado para avaliar a qualidade dos estudos incluídos entre 2015 e 2020.

CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES

A avaliação laboratorial deve ser realizada pela dosagem de 25(OH)D, e os principais grupos de indivíduos de risco para deficiência de vitamina D são idosos, pacientes com osteoporose, histórico de quedas e fraturas, obesos, gestantes e bebês. Para pacientes com osteoporose e risco aumentado de fraturas, recomenda-se que as concentrações de 25(OH)D permaneçam acima de 30 ng/mL para benefícios completos na prevenção do hiperparatireoidismo secundário, diminuição do risco de quedas. Considerações especiais devem ser tomadas para gestantes e lactentes, pacientes com insuficiência renal crônica, pacientes obesos e submetidos à cirurgia bariátrica. Vários estudos clínicos e metanálises atuais mostraram resultados significativos com a suplementação de vitamina D em complicações cardiovasculares, diabetes, câncer, doenças autoimunes, função cognitiva, entre outros, com doses acima de 30 ng/mL, chegando até 70 ng/mL, e mantendo a dosagem sérica em 50 ng/mL.

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