Prevenção da Covid-19 entre populações indígenas brasileiras com preservação da imunidade
Publicado em 20/07/2020

Porquê a cloroquina e hidroxicloroquina não devem ser administradas aos índios com Covid-19.

Programa brasileiro de prevenção do diabetes mellitus tipo2 entre populações indígenas, pós pandemia da Covid-19 pela preservação da imunidade.

JOÃO PAULO BOTELHO VIEIRA FILHO
Consultor Médico dos Xikrin, dos Paracanã Apyterewa do Xingu, dos Suruí Aikewara, dos Xavante Awê-Uptabi de Sangradouro e São Marcos, dos Bororo de Merure
Preceptor do Centro de Diabetes EPM/UNIFESP
Professor Adjunto com Doutoramento e Doutorado com Populações Indígenas da  Escola Paulista de Medicina EPM/UNIFESP

A prevenção primordial da COVID19 entre indígenas brasileiros em suas terras tradicionais da Amazônia, necessárias para sobrevivência da coleta, caça e pesca, está na retirada sem atrasos ou imediata dos invasores garimpeiros, grileiros, madeireiros, introdutores do Coronavírus. Sem a retirada dos invasores que chegam a milhares entre os Yanomami, entre os Paracanã Apyterewa do Xingu, terras estas homologadas em nome da União para usofruto dos indígenas, entre os Munduriku e entre inúmeras tribos da Amazônia, não haverá prevenção e controle da COVID19 e demais moléstias infecciosas introduzidas.

Os garimpos em Terras Indígenas que pertencem ou irão pertencer à União, Reservas Florestais, contaminam com mercúrio os igarapés, rios e lençóis freáticos, os peixes e animais que bebem as águas. As populações indígenas, as populações ribeirinhas e de cidades estão sendo contaminadas pelo mercúrio e metais pesados de outras mineradoras.

Os metais pesados como o mercúrio usado nos garimpos de ouro dos rios e barrancos são imunossupressores ou comprometem a imunidade dos índios, que passam a responder mal aos agentes infecciosos como a COVID19. Os metais pesados são cancerígenos, alteram o DNA hereditário pela Metilação para gerações futuras, comprometem o sistema nervoso e rins, sendo cancerígenos.

O Governo Brasileiro tem o dever Constitucional de zelar pela saúde da nossa população, o dever de zelar pelas Terras Indígenas e Reservas Florestais que pertencem à União, o dever de preservar a Amazônia. É um crime humano e ambiental estimular ou não impedir as invasões de Terras Indígenas e Reservas Florestais que pertencem a União. O Governo deve combater e ter combatido as invasões, os desmatamentos, os incêndios florestais que ocasionam imunodepressão dos índios pela insegurança alimentar.

A miséria das populações comprometidas pelos garimpos, desmatamentos, incêndios florestais, sem a presença do Estado brasileiro ou Governo, é contra a Segurança Nacional. Conheci populações miseráveis da área do Araguaia, abandonadas pelo Governo, sem a presença do Estado brasileiro que propiciou o aparecimento da guerrilha do Araguaia, que envolveu os índios Suruí ou Aikewara colaborando com o Exército.

O Governo Brasileiro tem que estar presente e atuante na Amazônia protegendo as Terras Indígenas, Reservas Florestais, bioma amazônico, impedindo a devastação florestal, os incêndios, o desmatamento em território que pertence aos brasileiros, desvinculando-se da paranoia que os estrangeiros tem interesse nessas terras. O interesse de governos respeitados como os da Europa sobretudo está nas mudanças climáticas ocasionadas pela destruição ambiental e gases estufa das queimadas, no aquecimento global que está comprometendo o nosso planeta. O nosso prejuízo estará na agricultura, na nossa produção, na exportação e eventos climáticos.

A invasão das Terras Indígenas compromete a coleta, caça e pesca, portanto a alimentação dos índios, que com pobreza alimentar tem menos proteínas e ficam sujeitos à imunodepressão da fome e abastecimento.

As águas envenenadas pelo mercúrio dos garimpos e metais pesados das mineradoras como entre os Xikrin, também comprometem a imunidade com resposta devastadora ao COVID19.

Os rios poluídos pelo mercúrio dos garimpos comprometem a dieta com peixes. Os peixes fazem parte da dieta tradicional dos índios, sendo imunoestimulantes pelo ômega 3, benéficos contra doenças infecciosas, inflamatórias e autoimunes (29).

Os peixes deixam de ser imunoestimulantes quando contaminados pelo mercúrio dos garimpos, passando a ser imunossupressores contra doenças infecciosas e inflamatórias. Os animais que bebem a água dos rios com mercúrio dos garimpos também contaminam os índios que os consomem.

O desenvolvimento da Amazônia está na sustentabilidade com produção do açaí, cupuaçu, castanha, cacau, babaçu e no aproveitamento da sua enorme biodiversidade, na criação de peixes.

O atraso para a Amazônia está na devastação florestal, nos garimpos, nos incêndios, na conversão da floresta em pasto para gado ou plantação de soja.

Sergio Vergueiro TV Cultura de São PAULO Ecologia 2020, viu sua fazenda com gado em área desmatada da Amazônia sem lucro e degradada, pelo que passou a plantar nessa terra castanheiras que recuperam terras degradadas, obtendo grande produção. Associou as castanheiras enxertadas até ficarem com 10 a 20 metros com açaí e pupunha. Este empresário mantém 1.300 castanheiras e fornece mudas a 1.500 proprietários. Ele é um exemplo de desenvolvimento sustentável em Itacoatiara.

Os índios da Amazônia tendo sua saúde preservada poderão ser produtores sustentáveis, desde que recebam assistência técnica de instituições como The Nature Conservancy (TNC) ou Instituto Socioambiental (ISA) ou ouras idôneas.

PORQUÊ A CLOROQUINA E HIDROXICLOROQUINA NÃO DEVEM SER ADMINISTRADAS AOS ÍNDIOS COM COVID19.

Os efeitos colaterais da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da COVID19 podem ser graves, ocasionando arritmias cardíacas com paradas cardíacas e mortes.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) afirma que não há evidências de benefício ou eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da SARS-CoV-2 ou COVID19.

O Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo desaconselha o uso da cloroquina ou hidroxicloroquina nos pacientes internados com COVID19.

O Hospital Sírio Libanês de São Paulo como o anterior que tratam Presidentes, orienta os seus médicos a informarem aos pacientes que não há evidências científicas da eficácia do tratamento da COVID19 com hidroxicloroquina, que os pacientes devem receber explicações dos riscos dos efeitos colaterais da droga como arritmias cardíacas.

O Serviço de Saúde dos Estdos Unidos (FDA) passou a não indicar o tratamento da COVID19 com hidroxicloroquina.

O Protocolo da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo com efetiva assessoria médica e científica, somente autoriza o uso da hidroxicloroquina em pesquisa.

O Presidente Jair Bolsonaro avesso à ciência e à assessoria médica alardeia ou faz propaganda do uso da hidroxicloroquina no tratamento da COVID 19.

O Ministério da Saúde sem Ministro Médico há dois meses, com um Ministro Militar obediente à orientação presidencial sem base científica, ignorando a orientação científica mundial, recomenda o uso da cloroquina ou hidroxicloroquina no tratamento precoce de doentes com COVID19 no SUS (Sistema Único de Saúde) para casos leves, moderados e graves. Recomenda a hidroxicloroquina também para gestantes, crianças e adolescentes.

A Sociedade Brasileira de Pediatria contraindica o uso da cloroquina e hidroxicloroquina na rotina de tratamento precoce de crianças com COVID19.

A hidroxicloroquina administrada juntamente com o antibiótico azitromicina aumenta o risco de arritmias cardíacas com paradas cardíacas e mortes.

O atual ou próximo Governo Federal poderá ter uma avalanche de processos de indenizações se os prontuários médicos revelarem arritmias cardíacas com mortes, além da insuficiência respiratória da COVID19.

O Presidente Donald Trump dos Estados Unidos que também promovia e propagandeava o uso da hidroxicloroquina na prevenção e tratamento da COVID19, recuou diante das evidências científicas e ofereceu 2 milhões de doses da hidroxicloroquina ao Brasil. Poderia levar o país à uma avalanche de processos diante da ineficácia da droga e riscos.

Por enquanto a dexametasona e anticoagulante evitam o agravamento da doença COVID19, melhorando a inflamação dos pulmões e também de casos entubados e submetidos à ventilação mecânica com respiradores.

O antiviral Remdesivir mostrou um efeito benéfico para o tratamento do COVID19 abreviando o tempo de internação. Continua-se atrás de um remédio eficiente. Anticorpos monoclonais estão sendo testados.

A solução contra a pandemia do COVID19 chegará com as vacinas.

Os indígenas brasileiros estão sendo submetidos ao tratamento ineficaz e com riscos da hidroxicloroquina ao contrário dos norte americanos.

Faleceram os seguintes índios Xikrin do Cateté com COVID19: Teptó (+de 60 anos) com hipertensão arterial; Bemok (73 anos) com cardiopatia hipertensiva; Aukrey (+de 65 anos) com cardiopatia hipertensiva; Bepkaroti (+60 anos) com hipertensão arterial tratado no Hospital de Aurilândia em uso de hidroxicloroquina; uma mulher (+de 35 anos) com artrite reumatoide, uma criança com menos de 3 anos.

Faleceram os seguintes índios Suruí com COVID19: Uareni (85 anos) hipertenso; Uarikaçú (78 anos) hipertenso; Uapia (+ de 50 anos) hipertenso; três irmãos sugere predisposição genética de má evolução da doença entre os Suruí Aikewara.

Faleceram os seguintes Xavante da Terra Indígena Sangradouro – Volta Grande com COVID19: Isaura (+de 60 anos) diabética em dialise renal; Xisto (+ de 60 anos) diabético dependente de insulina.

Faleceram dois Bororo de Merure com COVID19, um dos quais Gabriel Bakorokudo com 74 anos, hipertenso.

Faleceram como todos os índios mencionados anteriormente de insuficiência respiratória do COVID19, 12 indígenas diabéticos da Terra Indígena São Marcos com mais de 60 anos.

A pergunta que fica é se a hidroxicloroquina foi agravante das mortes o que pode ser esclarecida nos prontuários de medicamentos receitados.

A hidroxicloroquina não deve ser receitada aos índios com COVID19, pela falta de benefícios em estudos científicos, pela ineficácia e pelos riscos de arritmias cardíacas e paradas cardíacas.

PROGRAMA BRASILEIRO DE PREVENÇÃO DO DIABETES MELLITUS TIPO2 ENTRE POPULAÇÕES INDÍGENAS, PÓS PANDEMIA DA COVID-19 PELA PRESERVAÇÃO DA IMUNIDADE.

As populações indígenas brasileiras como as do Continente Americano possuem o genótipo ou herança para a obesidade que é uma doença inflamatória, herança para o diabetes mellitus tipo 2 o qual ocasiona imunodepressão e várias complicações do organismo.

As populações indígenas podem ter uma prevalência de obesidade de 50%, que pode ser observada nas lideranças, quando mudam sua dieta tradicional que é uma das melhores do mundo e passam para a dieta industrial ou ocidental, diminuem a atividade física.

Há grupos indígenas com prevalência do diabetes mellitus tipo 2 maior que 50%, chegando à 70% de populações que abandonaram a dieta tradicional, tornaram-se obesas, sedentarizaram-se nos Estados Unidos.

No Brasil o diabetes mellitus tipo 2 é endêmico na maioria dos grupos indígenas, epidêmico entre os Xavante com mudança para dieta industrial ou ocidental.

O diabetes mellitus tipo 2 é devastador entre as populações indígenas, ocasiona imunodepressão ou comprometimento da defesa do organismo diante das doenças infecciosas.

Os diabéticos Xavante estão morrendo pela COVID19 pois são imunodeprimidos.

Este Programa Brasileiro de Prevenção do Diabetes tipo 2 que exponho já foi publicado na internet pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e Comissão Pró-Índio de São Paulo em 2016 (28) .

Vários Programas de Prevenção do Diabetes Mellitus tipo 2, foram realizados com sucesso, retardando ou evitando a doença(2). Entre esses programas estão: o finlandês Finnish Diabetes Prevention Study (DPS(21)); o chinês (Da Quing IGT e Diabetes Study(13); o americano (American Diabetes Prevention Program (DPP)(8); os indianos (Indian Diabetes Prevention Programme Studies (IDPP-1 e IDPP-2)(15); o japonês (Japanese Sensharen Study(16)); o europeu (Prevention Using Lifestyle(18)); o australiano (Australian Life! Taking Action on Diabetes Program(5)); o singapures(11); o israelense(2); em especial o desenvolvido pelos americanos (Special Diabetes Prevention para Populações Indígenas Norte Americanas e Nativos do Alaska (SPDI-DP)(7).

No Brasil não há uma Prevenção do Diabetes Mellitus tipo 2 pelo Ministério da Saúde e Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), para a epidemia dos Xavante(3) e demais populações indígenas brasileiras com grande vulnerabilidade genética e ambiental ao diabetes e suas complicações(1,24).

As populações indígenas da América apresentam as maiores taxas mundiais de incidência e prevalência do diabetes mellitus tipo 2, quando mudam suas dietas alimentares tradicionais para a dieta ocidental, industrial com alto consumo de hidratos de carbono de absorção rápida (açúcar cristalizado ou sacarose) e gorduras saturadas de proveniência animal, diminuem a atividade física, aumentam o peso corpóreo(2,3,9,17,23,24,25).

A literatura científica mundial mostra a altíssima incidência e prevalência do diabetes entre populações indígenas, que mudaram o estilo de vida com abandono da dieta tradicional e diminuíram a atividade física(2,3,9,17,23,24,25).

Os índios Pima dos Estados Unidos mostram a maior incidência e prevalência mundial do diabetes mellitus tipo 2 e altos níveis de obesidade(17). De um total de 5.532 crianças índias Pima dos Estados Unidos, não diabéticas, com modificação do estilo de vida para a dieta industrial rica em açúcar e gordura saturada, com menor atividade física, 1281 desenvolveram diabetes mellitus tipo 2 (que costuma se manifestar na idade adulta), num acompanhamento de 12,4 anos(26). A incidência do diabetes foi alta entre as crianças obesas(26).

As crianças e jovens indígenas norte-americanos apresentam as mais altas taxas de diabetes tipo 2 entre jovens dos Estados Unidos, com complicações macro e microvasculares já no diagnóstico(10).

As complicações do diabetes mellitus tipo 2 entre jovens indígenas canadenses da Canadian First Nations, renais e neurológicas aparecem dentro dos 5 anos após o diagnóstico, enquanto que as insuficiências renais com diálises – cegueiras – amputações aparecem 10 anos após o diagnóstico(4,6).

A prevalência do diabetes tipo 2 entre os índios norte americanos jovens (Youth) entre 10 e 19 anos é a maior entre vários outros grupos étnicos como negros, hispânicos, ilhéus asiáticos do Pacífico, caucasoides que são os que apresentam a menor entre todos os grupos étnicos citados(10).

Observei jovem Xavante do sexo feminino com 15 anos de idade, cega pela catarata do diabetes mellitus tipo 2 e jovem do sexo masculino também cego pela catarata com 17 anos com antecedentes de obesidade na Terra Indígena Sangradouro. Na Terra Indígena São Marcos observei jovem Xavante do sexo feminino com 14 anos de idade com diabetes obesa.

No Brasil trabalhos publicados por Dal Fabbro, Franco, Vieira-Filho, Moisés e demais mostram a epidemia de diabetes e obesidade dos índios Xavante, que abandonaram a dieta tradicional e passaram para a dieta industrial, ocidental com excesso de calorias dos hidratos de carbono de absorção rápida e gorduras saturadas de proveniência animal, diminuíram a atividade física(3). A prevalência do diabetes mellitus tipo 2 entre os Xavante foi 28,2% quando entre a população brasileira é de 7,6%(3). A prevalência do diabetes entre as mulheres Xavante foi de 40,6%(3). A prevalência de obesidade nessa população Xavante das Terras Indígenas de Sangradouro e São Marcos foi de 50,8%(3). A prevalência da Síndrome Metabólica foi de 66,1% na população Xavante, chegando a 76,2% entre as mulheres(19).

Todos os grupos indígenas brasileiros com maior abandono da dieta tradicional e que aderiram à dieta industrial ou ocidental, com diminuição da atividade física, estão apresentando diabetes. Há mais de 300 diabéticos nas Terras Indígenas Sangradouro e São Marcos, 18 diabéticos na Terra Indígena Cateté. A prevalência de pré-diabéticos em Sangradouro e São Marcos é de 32,3%(3). Se houvesse um Programa Brasileiro de Prevenção do Diabetes entre populações indígenas evitaria-se a progressão desses pré-diabéticos para diabéticos ou retardaria-se o aparecimento do diabetes.

Um grupo de pesquisadores multinacionais em que do Brasil participaram Moisés, Vieira-Filho, Salzano(1), mostraram a presença de poliformismo do gene ABCA1, exclusivamente entre populações indígenas das Américas, ausente em outros continentes, que condiciona obesidade e diabetes mellitus tipo 2 quando a dieta tradicional é substituída pela ocidental. A dislipidemia a custa do bom colesterol (protetor cardíaco) está relacionada ao poliformismo ABCA1, que anteriormente à mudança do estilo de vida era compensado pela maior atividade física(1). Este poliformismo desenvolvido em milênios de procura alimentar diária, benéfico na dieta tradicional, torna-se prejudicial com o abandono da dieta tradicional e passagem para a dieta industrial ou ocidental com modificação do estilo de vida alimentar e do exercício. 27% da gordura retida e devida ao poliformismo do gene ABCA1, dificilmente é mobilizada(1).

Outros poliformismos de genes condicionadores de armazenamento de energia ou gordura corporal, benéficos nos milênios anteriores para períodos de penúria alimentar, devem estar presentes entre as populações indígenas da América.

O grande geneticista James Neel descreveu o genotipo Thrift do acúmulo de energia ou de poupança de sociedades com penúria de alimentos, tentando explicar o aumento do peso de populações indígenas, anteriormente à descrição do gene ABCA1(1,12).

Todos os Programas de Prevenção do Diabetes com correção de estilo de vida na alimentação e no exercício, chinês, finlandês, americano, japonês, indianos, europeu, australiano, singapures, israelense e o para índios Norte-americanos e Nativos do Alaska, mostraram a eficiência e êxito na prevenção do diabetes e também no retardo do aparecimento do diabetes em pré-diabéticos, pela intervenção de uma dieta saudável e no aumento da atividade física(2,5,7,8,13,15,16,21).

O Special Diabetes Program para Prevenção do Diabetes (SDPI-DP) para populações indígenas dos Estados Unidos e nativos do Alaska, que são os mais atingidos pelo diabetes nos diversos grupos dessa grande nação, Mandato do Congresso Norte Americano, constituiu numa intervenção no estilo de vida com 36 programas de assistência à saúde de 80 tribos(7). A intervenção no estilo de vida abrangeu a correção da dieta e ou aumento da atividade física de indígenas com intolerância à glicose ou pré-diabetes, através de comunicações pelos idiomas tribais(7). A perda de peso corporal foi estabelecida em 7%, havendo redução da incidência do diabetes em 58% durante 2,8 anos iniciais, redução do risco de diabetes entre 27 a 75%(7). Houve melhora da pressão arterial e dos lípides sangüíneos(7). Esse Programa para populações indígenas dos Estados Unidos e Alaska, mostrou a eficiência na prevenção do diabetes e também no retardo do aparecimento do diabetes, através da intervenção de uma dieta saudável e aumento da atividade física, entre populações que tanto contribuíram para a pesquisa do diabetes(7,9).

As populações indígenas do Brasil com altíssimo risco para o diabetes e suas complicações deverão receber o benefício de uma intervenção no estilo de vida, quando vão abandonando a dieta tradicional e a atividade física, com aumento do peso e da circunferência abdominal.

Deverá haver um Programa Brasileiro de Prevenção do Diabetes para populações indígenas com valorização da dieta tradicional, estímulo às roças de batata doce que diminuí a glicose e colesterol, feijão e fava, mandioca e macaxeira, abóbora, cará, milho, amendoim, mamão, abacaxi, produtos florestais e do cerrado, valorização cultural da atividade física. Essa valorização deverá ser executada pelas nutricionistas da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), que se preocupam e voltam suas atenções às desnutrições de crianças, pela enfermagem, pelos médicos, agentes de saúde, currículo escolar. Deverá haver uma Política Pública.

A ideologia política dos últimos governos de dar de comer indiscriminadamente com cesta básica com açúcar, alimentos doces nas merendas escolares, deve ser revista para as populações indígenas com grande risco para ganho de peso e diabetes. Uma atenção especial deverá se voltar para a produção alimentar das roças com alimentos tradicionais tão ricos em fibras vegetais que protegem contra obesidade, em vitaminas A,C,E, flavunóides, selênio e zinco, antioxidantes, anticancerosos, anti-mutações do DNA, antienvelhecimento.

Deverá ser cumprido o Projeto Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que prioriza os alimentos tradicionais produzidos pelos índios, adquirindo 30% da agricultura familiar para a merenda escolar, incentivando a economia das populações indígenas brasileiras(20). Essa compra de alimentos tradicionais para as escolas fundamentais deve ser realizada pelos Municípios, enquanto para as escolas de ensino médio pelos Estados, dentro da legislação já existente e não cumprida. O Ministério da Educação encaminha a verba para compra de alimentos para a merenda escolar aos Municípios e Estados.

Observa-se a entrega de cestas básicas a índios diabéticos com complicações graves, contendo quilos de açúcar, merenda escolar com sucos doces, doces e bolos, extremamente nocivos às populações indígenas brasileiras tão vulneráveis à obesidade e diabetes, doença renal crônica com prevalência 18 vezes maior que a dos caucasoides ou brancos entre índios norte americanos(22).

Para sobrevivência das populações indígenas há necessidade de terras ou reservas extensas e tradicionais para produção de alimentos próprios, coleta, caça e pesca, criação de animais.

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